quinta-feira, 12 de julho de 2012

Acácia


Olhos nublados pela melancolia aprendida com sua mãe, que achava romântico sofrer pela manhã e tinha muita disciplina ao chorar, pensava se não seria a música o elemento a desequilibrar-lhe da alienação.

Como era íntimo o cinza daquelas ruínas! Tanto, mais tanto, e com tanta propriedade, que indubitavelmente poderia deixar-se enegrecer naquele universo mesmo. Apesar da dor, do medo, do frio, e da falta de fé. Se bem que olhando com vagar, são consideráveis os pesares para uma temporada longa. 

A entrega para viver reflexão de tamanha monta aproximou-a do delírio, tentou ponderá-lo, nada. Avistou a ponte para a loucura e resolveu sentar sobre uma das tantas pedras que provavelmente teria de quebrar, na ânsia de tomar um fôlego, de ganhar mais tempo. Desejava voltar para onde sabia  respirar. 

O caminho trilhado até aqui era tão modelar exemplo do que ainda não havia sido aprendido que serviria bem ao entretenimento dos que gostassem de jogo dos muitos erros. Houve tanta boa intenção, tanto empenho, tanta entrega, tanta verdade, tanta reciprocidade, tanta beleza, que lançar-se mais uma vez no espaço parecia pegadinha. Será que não apressadar a dor acumula pontos? Será que assumir a própria incompetência daria a chave para umas pistas de como seguir sem cruzar a ponte? Faria diferença nenhuma, sabia que falhara. Quase certo de que se repetiria a lição quando menos esperasse. Melhor não saber? Talvez, por hora. 

Mas e se ela fosse o caminho e, morrendo de intensidades desde que nasceu, saísse maculando-o com o sangue que lhe brota no peito, vertendo pelas vazantes do desejo?

Havia saudade naquilo tudo, havia o começo, tudo com o que ficávamos desde até antes do encontro. Os começos nos remoçam toda vez que passomo-lhes na cara, no corpo (contra-indicação: vide suadade, confusão mental, incredulidade, dentre outros. Para mais detlhes vide vida). 

A despretensão com que se fingiu viver funcionou, e de repente dá-se a largada para a história. Temos a eternidade, ela ouve dos céus, indagando-se se está autorizada a achar isso péssimo de saber nesse momento. A falta é a morte da esperança, diz a música de antigamente. Ninguém protesta, parece que certo respeito se estabelece entre o caos dos olhos e placidez dos fatos.

Toca o telefone, engano. O disco trava no aparelho, a música passa a gaguejar angustiada. O gato derruba o vaso de planta perseguindo a borboleta mais desorienteada da história. Uma pena, é tão linda ela. O celular apita uma mensagem da operadora. Talvez fosse prudente levantar-se, agir, fazer jus ao nome que lhe fora impingido. Levante e anda, disse Jesus a Lázaro. Erguida, voltou pra trás.

- Elis Barbosa

Um comentário:

Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)