segunda-feira, 29 de abril de 2013

Seta


Escreve leve, escreve simples, escreve direto. Não sai, não funciona assim, não sei fazer. Pense: como seria possível? Nada a que serve tal escrita peculiar é leve, simples e/ou direto. Compromisso sim. Parece que essa escrita submete-se ao compromisso de conceder palavras às imagens nascidas de muitos desejos. Entre a noite, sobre a qual me debruço precipitadamente, e o tempo em que vivo forjando dias com nomes e números, dentro de meses que se encontram dentro de anos, bóia essa escrita truncada, cujo sentido não pertence a ninguém, embora os significantes tenham nome e endereço.

O perigo de dizer, é justamente esse, abre-se, deliberada e descaradamente, espaço ao outro para que entre. Nem sempre ele o faz. São dos perigos.   

Os calendários sim são simples e diretos, de leveza atribuível a quem os for colorir. Sendo assim, não há como ser leve, simples e direto, nem para os calendários, concluo. Mas enfim, quem pode dizer que o tempo é, quando ele mais parece feitiço de passagem com rastos no seu eterno envergar dos homens.

Percebe, não é possível ir direto ao ponto, não é possível remover o véu que reveza, cobrindo ora os olhos ora o objeto. Ainda se faz elementar ver em partes, posto que o todo no tempo do agora dançaria inapreensível.

Repito sempre algumas palavras, algumas expressões, o olhar atento colhe minha assinatura e a legitima, inclusive ao sugerir que se faça diferente. Repito o modo, repito a estrutura, repito seu nome em silêncio nas preces que aprendemos justamente para repetir. Repetem-se as estações do ano, mas não sem intenção, ao invés de se repetirem inócuas elas trazem em suas cestas aqueles dias passados que mais queriam ficar. E nada disso pode ser leve, simples ou direto. Como poderia essa escrita o ser?

Responda ou... nada. Já fui devorada.

- Elis Barbosa

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