terça-feira, 2 de junho de 2009

Encontro Casual



Quantas e quantas vezes virá o passado nos assaltar logo ao raiar do dia? Isso quando não o faz durante o que deveria ser sono reparador, trazendo à baila nos sonhos, imagens que de tão antigas valsam em sépia....

Hum, hum, hum... pigarreia ele, pois pigarreia sempre que nervoso, punho cerrado próximo à boca, igualzinho quando... reproduzindo – nosso destino necessário esse o da reprodução!? Temendo, tremendo. E se a voz não soasse como devia? E se sequer soasse? Suava, muito. Respirava apertado, tentando com a razão dissuadir o impulso, o desejo inconteste de falar-lhe. Fazia já tanto tempo, para quê expor-se assim desavisado a olhar e ser olhado? E o olhar seria nos olhos, pois não conhecia ela outra forma de falar que não fosse olhando nos olhos, ele bem o sabia!

Para quê?

Abriu os olhos e capturou-o a imagem dela, que num movimento distraído do mundo, tal qual sempre havia sido, coçava a cocha esquerda, levava a mão ao brinco e depois ao queixo, divagando imersa naqueles pensamentos que só corriam na cabeça dela, de mais ninguém! Tão cheia de manias, tão vazia de hábitos, vivia variando, sorriu...

Avariando, isso sim!!! Mas que tanto tem de mudar os móveis dessa casa pra lá, pra cá?! É bom, lindo! Senão a gente esquece que pode mudar, e depois acho que essa arrumação deixou mais arejado, não achou amor? Toda vez você diz a mesma coisa, toda vez você acha que ficou melhor dessa que da última! Quem não muda é você!

Aquela acusação final, aplicada a tantas e quantas coisas, trazia sempre ao rosto moreno, miúdo, um ar de rebeldia sabida de pessoa doce. Sabe como?

Sacudiu de leve a cabeça, como quem espana pensamentos, mas o máximo que pôde foi embaralhá-los... podia falar com ela, como podia não falar. Não falando ficaria esmagado sob a acusação grave de covardia, falando não sabia! Como assim não vai falar com ela, lindo? Não vou, eu disse que depois daquilo não falava mais com ela?! Pois então, não falo e ponto final! Mas querido, isso já faz tanto tempo, e ela faz aniversário semana que vem, e vocês são tão amigos?! Não somos mais. Homem, deeeeixa de covardia e assume logo que o amor, a amizade e a saudade não ligam para promessas feitas assim de pirraça!

Afinal, eram velhos conhecidos, íntimos até, tão íntimos... milhares de imagens invadiram suas retinas de dentro para fora, como num arrastão, e começava a sentir os cheiros... sacudiu mais uma vez a cabeça, respirou fundo e olhou para ela pretendendo indiferença, de si para si mesmo, já que ela estava de costas. Sentiu vontade de sorrir, mas neste revés os olhos é que se manifestavam umedecendo, ao timbre da voz amorosa... Pode virar, pode fingir que não está nem aí, eu não ligo, te amo mesmo assim, tá?

Melhor não falar... sabia que raciocinava debilmente.

Meu Deus, é você mesmo?! O sorriso mais lindo, os olhos mais brilhantes de apertar lágrimas, e os braços abertos sacudiram-no de uma só vez, era um assalto! Ela o descobrira depois mas o invadira primeiro, como sempre... Olá! Sua alma querendo desencarnar naquele cumprimento sussurrado. Tentou mais uma vez... Olá!

- Elis Barbosa

4 comentários:

  1. Casual o encontro pode até ser, mas a emoção de cada reencontro por mais acidental que seja é determinada pelas emoções que são carregadas por ti. Talvez o que mate no casual é não esta pronta para aquele momento ou não “poder” dizer o que gostaria. O ruim de cada acidente da vida é notar como poderia ser diferente, pelo menos a seu ver.
    O que importa mesmo é notar que o acaso, por definição, fala por si só (é mesmo algo que surge ou acontece sem motivo ou explicação aparente).

    Beijos,

    Bidei.

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  2. Bidiiiiisssssssssss! Então! Eu também acho isso da emoção estar conosco o tempo todo... Acidentes são ruins mas casualidades não, acho que elas dão o tempero da vida, colocam a gente na real de que não estamos no controle meesmo! Além do mais, em quase qualquer situação, a gente vai achar que poderia ser diferente...

    "O que importa mesmo é notar que o acaso, por definição, fala por si só (é mesmo algo que surge ou acontece sem motivo ou explicação aparente)." XIM!!! As surpresas da vida que eu tanto adoro!

    Obrigada minha amada, é muito acolhedor saber que você está sempre por aqui!

    beijos!
    Sussu

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  3. Sempre não,tempo demais...Passo por aqui as vezes, e digamos que deparo com alguns textos escritos lindamentes,isso sim é acolhedor.

    Beijos,
    Bidei.

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)