Aqui na minha frente está essa folha virtual que
esfrego sobre a mesa para me certificar de que está lisa, vazia, ausente de si,
cedendo resignada e branda o espaço que preciso para preencher lacunas. Mas
como preencher quando estou, eu mesma, um sem fim de lacunas pontuadas por
interrogações piscantes. Posso contar uma história, me faz bem
conta-las. Ressalva aqui para a grafia da palavra, história assim, se
escrevia para o que convencionaram chamar fatos, e estória assim, se escrevia
quando os fatos passavam por um rio de imaginação antes de transpor a fronteira
dos lábios. Com as mudanças feitas ultimamente, não sei mais quem é quem, de
modo que a veracidade desta narrativa fica a serviço do desejo de quem
continuar por aqui.
Numa das dimensões em que vivem as pessoas,
acontece de duas se encontrarem numa bifurcação de caminho. A que vinha de lá
olhava a paisagem distraidamente, e quem vinha de cá fitava a terra
regozijando-se na obscenidade de suas cores e texturas, ora vermelha e
malemolente, ora preta e densa. Caminhavam tão absortos que olhar nos olhos
parecia natural. Desarmados, sorriram polidamente. Ora, um sorriso dessa
natureza pede, puxando de leve a barra da camisa, a troca de cumprimentos que
correm a interromper o silêncio tagarela dos pensamentos de lado a lado. O que
não se esperava, é que as vozes, carregando palavras tão rigorosamente
previsíveis, se abraçassem como conhecidas de antes de muitos ontens. E
não se pode ignorar quando as vozes se abraçam assim, porque é sinal de que
compartilham algum segredo.
Segredo tem dupla nacionalidade, para os que
conhecem sua intimidade ele se revela lúcido e firme, para os que o ignoram
posa de mistério, deixando no entorno a sensação de se ter ouvido o próprio nome
sussurrado mansinho pelo vento. É da natureza do segredo querer se revelar, mas
só se revela a quem tem coragem de atender quando chamado. O segredo nunca
assume forma de mentira, não lhe cabe, ou é sabido ou não é sabido. Toda vez
ele faz questão que se repita isso, receoso que maculem sua reputação com
interpretações desleais de sua natureza.
Abraçadas as vozes, ficava um desconcerto no ar,
plasmado nos sorrisos abertos só até a metade, sem permissão de gargalharem,
sob pena de acordarem um afeto que ainda nem existe. Não é assim? A agitação
que ambos sentem deve-se a alguma outra coisa para qual não encontram nome. E
bem no meio da terceira respiração concordam, num aperto de mão, que o calor
está de matar, que não há motivo para continuarem seus caminhos separadamente,
não sem antes compartilharem algo. Decidem pela água, molham a palavra na água
que traziam em si. E seguiram juntos, mesmo percorrendo trilhas diferentes,
serenos na certeza de que começaram ali uma história, cujo o fim ainda é
segredo.
Olá, adorei teu bloge por isso já estou seguindo. Espero que me visite :D Bjs
ResponderExcluirAi, amiga, quanta lâmina custa para abrir clareiras onde a lucidez é densa?
ResponderExcluirlindo adoreiii
ResponderExcluirEu sou o que sinto e
ResponderExcluirvivo o que penso.
Quebro a cara,
mas me reconstruo.
Não tenho medo de amar.
E nem tenho vergonha
de me expressar.
Quero da vida tudo o que
ela possa me oferecer.
E, se vierem lágrimas,
Deixarei que elas
escorram firmemente
sobre a minha face
E depois as enxugarei,
quantas vezes
forem necessárias,
sem nunca me arrepender
de ter vivido.
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ResponderExcluiradorei a postagem "A agitação que ambos sentem deve-se a alguma outra coisa para qual não encontram nome".. é realmente é uma dificil de explicas! :*
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