quinta-feira, 5 de março de 2009

Brinca, brinca...



Num ritmo seu, no qual raramente tenho a oportunidade real de interferir, o movimento vai seguindo a trilha necessária. Os dias repletos de recados, sins, nãos e muitos, muitos talvez. Sempre a brincadeira da adivinhação e eu péssima com sinais. Pistas a cada esquina e só me resta recolhe-las para, quem sabe um dia, conseguir montar o quebra-cabeça, já que agora tudo bóia numa tigela imensa, cheia até a boca , de sopa de letrinhas.

É no que dá infância entre livros, revistas e histórias, mas brincava bem muito de passa anel e ninguém nunca acertava quando era a minha vez de soltar a jóia na mão escolhida. Sabia fazer mistério, mas ainda não sei desvenda-los. E pareço sabe o que? A cabra-cega, de olhos bem cobertos tateando, tentando encontrar.

Contam, contam indefinidamente, e era tão fácil encontrar esconderijos então. Os lugares me cabiam, o corpo obedecia às manobras mais tortas, o coração batendo forte quando quase descoberta, e a corrida desesperada, se enfim descoberta, na tentativa de isentar-me da tarefa de ser a próxima a procurar. Afinal, já disse, fazer os mistérios sempre foi infinitamente mais fácil que desvenda-los.

Caí, como eu caí, as marcas no corpo denunciam sempre nossas aventuras, esta testemunha inquieta, saliente, fazendo rastro dos lugares onde estivemos, cheio ainda das frutas que comíamos sem lavar (amoras, amoras), impregnado das gargalhadas e excitações das brincadeiras que brincávamos.

Muda tão pouco de tudo isso, ao menos assim me parece quando atento para dentro, muda tudo quase nada. E me pego, mais uma vez, bem quietinha, respiração contida, de coração na mão, só esperando o momento, às cegas, tateando cuidadosamente, com a jóia na mão, sem fazer a menor idéia de em que mãos ela irá cair, tudo pulsando aqui e agora, aquele sangue misturado com alegria e medo.

1, 2, 3, 4, 5....

- Elis Barbosa

6 comentários:

  1. Amiga,

    Inspiradíssimo o texto! Adorei a imagem do corpo manobrando para entrar nos esconderijos! Lindo mesmo! Parabéns! E, como falei mais cedo, este (o da escrita) é que é o seu verdadeiro caminho, para o qual a vida mesmo e a privilegiada sensibilidade encarregaram-se de graduá-la a custa de múltiplas e bem-vividas experiências.

    Bjs da
    - Betinha

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  2. Hahaha, com uma amiga como vc quem precisa de auto-estima, a sua ja faz quase o trabalho todo!

    Ah amiga, que momento! Que momento!!! QUe bom que gostou, esse saiu tao sem razao de ser, tao por ele mesmo ainda estranho quando o leio, mas logo, logo vejo que sou eu mesma ali, bem no miolo da coisa!

    Um beijo grande Betinha!

    da Elis

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  3. comentei em seu texto (interior - esquentando)...bjs, Kk

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  4. Kk, comentei seu comentario! hihihi

    Beijos

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  5. seu texto me emocionou, tive a sensação de te conhecer mais um pouco, de que vc abriu um pouquinho mais dos seus segredos. Leria muito mais. Se existir um ponto de excelência na escrita, tal como um estilo, tive a sensação de que te vi nele. quase pude sentí-la ao meu lado. bjs!
    Miriam

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  6. Amiga querida!! Quanta honra vê-la por aqui!!! E lendo assim e me entendendo assim e me sentindo assim, próxima de ti... fico tão feliz! Obrigada pelos elogios e reconhecimento, faz valer a pena a exposição.
    Beijos saudoso!
    Elis

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)