sexta-feira, 22 de maio de 2009

Ainda...



Te amo, sabe... os olhos amendoados e muito negros dela acompanham as palavras, umedecendo-as com o mel do seu carinho mais entregue! Ele, atingido em cheio por aquele banho de calor amoroso, sentindo na boca toda doçura da mulher mais doce do mundo todo, comove-se. Seus olhos pequenos, igualmente negros, de cílios muito compridos marejam... toma em suas mãos enormes o rosto delicado da mulher que era completa e absolutamente sua, cheira-lhe os cabelos (como quem urge por sentir-lhe todas as essências) olha-a nos olhos, incrédulo, e liberta o Eu também te amo que pululava na ponta da língua já fazia era tempo! Eu também te amo, muito.

Permaneceram então abraçados pela eternidade que durou o amor.

Mas um dia, daqueles que ninguém espera, sobrevieram as tumultuadas ondas do desentendimento, das dúvidas, das hesitações, uma tempestade. E o balanço começado com aquele alvoroço trouxe de lugares longínquos e perigosos águas-vivas e algas venenosas que misturaram-se ao amor. Veio daí dor, mágoa, ressentimento. Palavras amargas ditas sob o sol quente do desespero. Raios e trovões revezendo-se no ditado ritmico que prenunciava perigo.
E quando tudo passou a água outrora doce mostrou-se salobra, ruim para a alma, e via-se na praia então o corpo estendido na areia, o Amor, quase afogado, cheio de queimaduras, envenenado, moribundo!

Domingo – foi selada num dia de nome próprio a aura do silêncio odiento que nortearia a partir de então suas condutas um para com o outro. Nunca mais haveriam de trocar palavra, ou olhar, ou abraço, ou nada. Nunca mais!
O telefone tocou e tocou, fazendo coro com os soluços que sacudiam seu corpo feito tão mais para o amor que para o sofrimento... as lágrimas, palavra feminina, tinham bem o sabor daquela água ruim que os contaminou.

Não houve resposta à sua chamada.

Sim, a despeito de tudo e por todo o resto ela o chamou, precisava que a história ficasse intacta, que ambos a contassem como se fossem um, já que era a história dos dois juntos! E precisava disso por ainda ama-lo, por amar a história, por guardar como tesouro de primeira grandeza os sonhos que embalaram juntos, por acreditar que muito mais que homem e mulher eram humanos.
Não houve resposta.

Ficou com aquela pedra pesando-lhe na alma, sem saber o que fazer... deparava-se com um vazio cheio de coisas que não conseguia identificar, sombras, tudo etéreo mas real. Chamou-lhe uma vez mais, bradou seu nome e em seguida a pergunta que ficará para sempre sem resposta: por quê?

O amor não estava morto, o que ela sabia e queria dizer, para dividir ainda mais esta última cumplicidade, é que aquele amor não morreria nunca. Havia marcado um tempo, um espaço e duas vidas. A dor vinha daí, a dor vinha da insubordinação diante da continuidade do amor a despeito do fim.

- Elis Barbosa

6 comentários:

  1. Querida,

    Sua alma de esteta, apta a processar mesmo o dorido luto em Beleza.

    Bom te ver no seu espaço, ocupando-se de sua arte, de sua escrita. Nós, os seus leitores, estávamos com saudades.

    E esse texto começa como diário e termina como literatura! Gostei da virada na linguagem, de como ele ganha em densidade.

    Bjs,
    Betinha

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  2. Ontem eu li e não pude comentar...a casinha do comentário havia sumido...deve ter se assustado com a grandeza do teu texto e com o teu despojamento. Hoje refeita, ela voltou. Que bom! Posso usar-me dela para fazer chegar à você as minhas notas sobre as tuas ideias!

    Bjos, Kk

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  3. Betinha!!! Processo assim… é o caminho que melhor conheço para fazer passar mais rápido, escoar de mim para fora o que parece que não cabe dentro!

    Que bom que gostou da virada, eu adoro viradas! Viu o mar de que falávamos? Lá está ele, denso, denso, denso!

    Beijos amiga!

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  4. Kk, fofa, ontem me pus a fazer modificações nessa pagina! Gosto de mudar as coisas de lugar, sempre... Obrigada pela “grandeza”; quanto ao despojamento, é verdade, quando o escrevi pela primeira vez estava despojada de um tanto de coisas... Ficou mais ou menos como te mostrei, né?

    Beijos linda!

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  5. a verdade do que foi, do que é, não se esvai. é a possibilidade de amor, está sempre ali. deixar com que ela flua, permitir que ganhe vida, libertos de medos, de premissas, de passados e futuros, é a grande sacada.

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  6. Lindo Débora! Adorei, é isso mesmo fofa! Liberdade é o quintal mais fértil para crescer o amor...

    Beijos,
    Elis

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)