domingo, 17 de janeiro de 2010

Ciranda Irresistível


Choravam à beira mar melodias de tempos já idos, que ainda reverberam bem aos que, de alguma forma, permaneceram por lá. O sol despedia-se vaidoso, vibrando seu dourado de fim de tarde, beijando de leve as nuvens que passavam distraídas.

A moça de vestido de barra florida comungava com tudo sem falar com ninguém. Alheia, recusava a dividir o que lhe ia pelas idéias, até mesmo porque, ponderava, não interessava mesmo a questão.

Enquanto deixava-se ser ali, amolecida pela maresia, a música entra-lhe pelas ancas propondo indecente o empréstimo do corpo bronzeado e fresco ao desfrute do movimento. Os batuques lhe faziam cócegas. Sorriu, corou, sentiu.

Pensava para não ir, pois que se não pensasse iria. Com a noite, com a música, com o movimento que vibrava agora no baixo ventre.

A balburdia crescia, o ritmo lhe acariciava a cintura, aliciando. O silêncio dentro dela faz movimentos de se recolher, já vira tudo, e sabendo do que ia acontecer começa a catar as questões espalhadas, junta os poréns, guarda todos na cestinha de praia e vai-se embora.

A graça que vinha de mãos dadas com a brincadeira acena um adeus faceiro ao silêncio resignado. O acaso que passava resolve ficar por ali assim, traquinas. De modos que fazer a saia rodar era o que seria, e as flores fixas, tontinhas, não saberiam bem o que contar do que se passaria.

- Elis Barbosa

4 comentários:

  1. Esse é o tal isento de cantinho da reflexão? Se não for, já o introduz, de todo jeito!

    Na maior parte do tempo me sinto assim, comungando com o mundo sem que ele se dê conta disso. Vejo agora que uma parte dele se dá conta, sim.

    "Sorriu, corou, sentiu." Posso usar nas aulas de Orações Coordenadas Assindéticas? Isso arrepia, de tão bonito. Faz lembrar que quem manda no compasso é você; faz tropeçar quem vinha afoito. Meu mestre me dizia que isso é "aquela freada brusca que o motorista dá no ônibus e que sacode todo mundo, só para rearrumar os passageiros"!

    Bárbaro. Irresistível, como a Ciranda.

    Beijos, moça florida!

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  2. Não é pra pressionar não; só pra registrar que ainda espero um dia saber da continuação de História de Verão! [claques]

    Beijos, Elis!

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  3. Sim, esse é o tal de que tinha lhe falado! Que bom que gostou assim, bárbaramente.

    Ah, a História de Verão... bem quase pego nela esse fim de semana, mas ainda não, quem sabe pra semana?

    "Posso usar nas aulas de Orações Coordenadas Assindéticas?" Pode usar do jeito que você achar bom! Já não nos pertence mais :O)

    Beijos,
    Elis

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  4. Estou largada no sofá tomando o tempo exato para ler o seu blog, que há muito tempo não visito com a calma que ele me pede.

    Agora sim, agora sim.

    Bjos, Kk

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)