terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sob efeito


Andava reticente quando o assunto era sua vida amorosa que mesmo inexistente, ou talvez por isso mesmo, surgia como questão nas rodas amigas. Evitava opinar, mesmo que fosse de si para si posto que parecia estar mesmo sem inspiração. Ademais, viver a partir de sentenças, de coisas decididas, resolvidas, tinha sido sempre mais fácil, era o seu processo.

Nada como a racionalidade, nada como o frescor das coisas amenas, com as quais se podia contar, que davam boa base para se planejar o depois. Plano, era com ela mesma!

Ia assim, tranqüila. Nada de amores, nem pavores, nem ardores, nem calores. Pessoa que seguia firme e sossegada. Chegava a se sentir mais inteligente! Melhor, assim, melhor a sós.

Pois, foi nessa hora de distração, nessa hora em que, reza a lenda, as coisas acontecem, que aconteceu. Justo com ela que nunca dava trela para esse conto da carochinha – quando a gente menos espera, minha filha, é que a coisa acontece! – aconteceu. Tomou foi um susto!

E olha que nem foi caso de ser de repente, a coisa foi sorrateira, bem à mineira. Segura que estava da impossibilidade do depois, confiante feito São Tomé, somente naquilo que lhe parecia palpável, foi seguindo a trilha, olhando sempre para trás, assegurando-se de que ainda era possível ver o ponto de partida. Seguiu.

Seduzida pelos vaga-lumes divertidos percebeu, num dado momento, que seus planos iam sendo pautados em conformidade com a trilha que seguia, foi o primeiro susto. Recuou, agradeceu polida e emocionada, era muito educada, e despediu-se sentindo já os ecos da paz que a solidão oferecia em seu abraço amigo.

Espera, depois daquela curva tem uma coisa linda que eu quero te mostrar. A curva era logo ali. Olhou para trás, mirou cuidadosamente o curto trajeto que levava à curva e decidiu que, pensando bem, não se perderia por causa de mais um tantinho, de uma curva boba. Adorava coisas lindas, seria mais uma para a coleção de histórias que guardava.

Então, só até a curva? É, ali tem uma coisa que você vai gostar.

Sentindo um medinho pequeno arriscou.

Chegada à curva nada aconteceu, respirou aliviada, segura avançou para olhar, gulosa, o que tinha depois. E tinha uma coisa linda, e nessa coisa linda tinha tanta coisa de ver, de ouvir, de tocar, de cheirar, de sentir, que a pobre desnorteou. Sabia na cabeça como fazer para voltar, mas o resto era tão feliz ali que acabou por deixar-se ficar. Apaixonou.

- Elis Barbosa

6 comentários:

  1. Bravo!!! A cada instante da vida temos decisões à tomar, caminhos à escolher e emoções a cada curva do caminho...por mais relutante que somos em algum momento encontraremos essa sedutora curva.

    Z@C

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  2. Que lindo texto, Elis. Aceitar o chamado à aventura, sem bagagem nenhuma. Como tem que ser com todos os heróis e heroínas. Os personagens vivem!

    Beijo minha amiga, Kk

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  3. Z@c, obrigada pela visita, volte sempre, sempre! Viu como acabamos por ser corajosos?!

    Abraço,
    Elis

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  4. Amiga, saudades!!! Saiba que depois de tuas dicas preciosas meus personagens sao outros! Espero poder dar cada vez mais vida a eles!

    Beijos sua querida!
    Elis

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)