domingo, 21 de dezembro de 2008

Atenção ao toque sutil do Oriente



Ainda bem que o inusitado faz parte do cenário onde atuamos nesse mundo! Para ser honestíssima, tenho a impressão de que se trata de 90% de improvisação e 10% de episódios ensaiados, previsíveis, o que no meu universo dizem respeito às contas, que sempre vêem, e à morte, única certeza que podemos ter na vida! Tudo tão irônico e gozado...

Bom, isso tudo para dizer que graças ao inesperado chegou às minhas mãos um livro que muito provavelmente não chegaria por outras vias, A DANÇARINA DE IZU, do ganhador do Prêmio Nobel de 1968 Yasunari Kawabata. Um livro breve, como o descreveu o rapaz na livraria... mas tão intenso na sua descrição viva dos acontecimentos que é como se acontecesse agora. As palavras simples e a construção direta do texto são como os golpes de arte marcial que vejo por aí, belos, precisos e sobremaneira eficazes.

A dança das sensações e o tempo em que elas são descritas é oriental, viver um dia após o outro sendo cada momento a única possibilidade real de se viver a intercessão entre passado/presente/futuro. O tempo deles parece diferente do nosso. Esta é mais uma historia oriental em que a origem das coisas não importa, a narrativa começa onde começam os acontecimentos que serão narrados e volta-se ao passado somente o necessário para as referências de família. Que alívio... não se vai ao futuro que não seja o que vem imediatamente amanhã é o que dá para tentar planejar... quem sabe....

E finalmente o que mais me impressiona até agora (não terminei de ler essa peça) : o frison que causa a imagem, e tão somente a imagem do ser que inspira o desejo no outro, não é preciso nem se tenta o contato para a posse, há apenas o desejo... a dançarina é o que é e como é e isso não se questiona, há apenas o desejo de que o seja nos limites do campo visual de quem a ama.

Tudo bem que essa não-posse pode ter muito mais que ver com o fato de o rapaz que a ama ter apenas 19 anos, tempos em que não se pretende mesmo possuir nada, pois temos sobejando de um tudo dentro do frasquinho de nada que é o corpo... mas não quero saber dessas racionalizações ocidentais, quero só acreditar que existem outras formas de amar que não apenas as que eu conheci até agora... afinal, ainda tenho muita estrada para caminhar!

- Elis Barbosa

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