quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Texto inacabado


A aridez natural com que os dias correm a passar um pelo outro, e depois pelo um e de novo pelo outro, e assim sucessivamente, não satisfaz a sede de intensidades diversas que têm algumas almas inconformadas.

A aridez pode ser e, normalmente o é, intensa à sua moda, e vazia, vai deixando tudo sempre como sempre foi e vai cuidando para que se tenha o mais absolutamente necessário à sua reprodução. Essa ao menos é a aridez que conheço. E confesso: às vezes posso até gostar dela, depende do grau de canseira que tenha me dado a vida, mestra em dar na gente corridas dignas das “corridas de cachorro” que me acometiam na infância brejeira!

As “corridas de cachorro” eram emocionantes, não há como negar, pois promoviam um rebuliço interno, várias emoções... vejamos: havia o medo da fera horrenda em que se transformava o vira-latas, adrenalina à mil; havia a força física empenhada na corrida com a certeza/esperança de que mais uma vez se escaparia de mais esta prova de fogo; havia finalmente o gozo de se passar por todos os obstáculos deixando para traz o animal que ainda ladrava mas agora sem assustar! – Vitória! Ponho novamente a ilusão de o homem estar no controle de alguma coisa sobre a face desta terra.

Curioso como não é possível fugir às analogias que essa situação banal suscita! Bem, de qualquer maneira, falávamos de aridez e não de aventuras, logo...

Todas as almas, “o primeiro princípio do seres vivos”, são diferentes umas das outras, mas...

Voltando: existem as almas inconformadas, almas que sairão das fôrmas com defeito, que não se enquadraram direito no momento em que se concebiam, ou sobrava, ou faltava ou simplesmente não se encaixa adequadamente à forma. Agora veja você, que coisa mais intrigante, almas com defeito... sim, porque a matéria é passível de deteriorar-se ou ainda de já começar a existência apresentando diferenças tão drásticas entre uma forma e outras formar que chamam essa matéria de defeituosa, embora esse chamamento seja politicamente condenável, mas almas?

Pois é, ao que me dizem as fadas, acontece com as almas que elas têm de sair para algum lugar e que não há lixão nem hospícios para almas com defeito, onde muito provavelmente elas não incomodariam ninguém! Então acaba que, mesmo inconformadas elas são jogadas no mesmo lugar que as almas boazinhas, sem defeito de fabricação. Almas que passam sua existência naquele estado de contemplação celestial que não atrapalha ninguém, como os anjinhos-criança pintados nas catedrais!

O que acontece então? Arrazoemos um momento sobre isso utilizando um método bem objetivo, a equação:

AI + AB / EF = ?

AI = Almas Inconformadas (com defeito)
AB = Almas Boazinhas (tilintando de normalidade)
EF = Espaço Físico (as Almas dividem o mesmo espaço físico!)

Olha só como serviu para alguma coisa todas aquelas horas de tortura infinita da mente que, feita de palavras, tinha de ler números e falar com eles através de outros números!
- Elis Barbosa

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