sábado, 6 de setembro de 2008

Meus Filhos


A despeito de todas as perdas e danos, de todas as coisas feitas ou procrastinadas, das precipitações ou covardias, das inúmeras linhas escritas e mais ainda das apagadas no processo de confecção de um trabalho acadêmico que mais parece um teste de resistência que de competência, tive o privilégio de gozar, nesse dias de recesso, da companhia de dois gatos, Theodoro e Maria Filó, que moram comigo desde que tinham um mês de vida cada um.

Gosto de chamá-los de meus, de meus filhotes, porque os amo profundamente, e gosto também de acalentar a ilusão de que posso ser para eles tudo e qualquer coisa de que precisem... Acho que é assim toda vez que a gente ama!

O Theo fez um ano de vida em agosto, e como leonino que é vive se vangloriando pela casa, com seu andar sensual, da beleza que a natureza lhe deu! Arrogante, cheio de si, finge uma independência engraçada porque é pura farsa, é o único gato desastrado que eu conheço, vive esbarrando nas coisas entre um pulo e outro! Muito carinhoso e descansado! Leoninos são assim.... Fez um ano que ele veio para mim da rua e parece que foi ontem, acho que é assim quando a gente ama!

A Filó, faz um ano dia quatro de outubro, é a libriana da minha vida, com seu olhar de maluca, de quem está sempre sem saber muito bem o que vai fazer no próximo minuto, uma agitação contida pela indecisão diante de um apartamento de possibilidades... Elegantérrima e graciosa se derrama em carinhos e lambidas pelo Theo e por mim, é muito espaçosa e não pode, em hipótese alguma ver um pombo que começa a miar como um mico, mesmo depois de minhas severas afirmações de que ela é um gato e, portanto, deveria miar como um. Sou ignorada solenemente por ela, inclusive quando brigo, nesses momentos ela me olha arregalada e pisca um olho só.

O Theo tem o ímpeto incontrolável de dominar, típico dos machos eu acho, e se enfia nos lugares mais esquisitos para interromper os outros, a Filó o ignora sempre que age assim, exatamente como faz comigo, é engraçado porque ambos ficamos muito sem graça! Ela finge que não entende... é uma maluca mesmo!

Os dois são muito estudiosos, sempre que estou lendo algo se metem na frente ou em cima, pode ser livro, jornal, revista, de maneira que as vezes me pego toda torta tentando acomoda-los e ainda assim continuar lendo.

Perdi as contas das vezes em que tiramos uma soneca no sofá, o Theo deitado na minha barriga e a Filó do meu ladinho, perto do sovaco, ela tem uma coisa com sovacos que eu sinceramente não entendo... mas assim é e espero que o seja para sempre, embora para sempre seja um tempo que simplesmente não existe!


Dividimos um apartamento e vivemos os três na mais perfeita harmonia felina, hora juntos, hora separados, porque ninguém agüenta mesmo ficar junto o tempo todo. E, sempre que me pego descrente quanto a existência do afeto e do amor puro e incondicional flagro os dois dormindo amontoados um em cima do outro trocando lambidas se acordam. E sempre que não acredito mais que seja possível dividir a vida com outrem de maneira tão orgânica, como morando junto, acabo flagrando uma pequena briga entre eles, seguida de distância e terminada em aconchego... acho que eles esquecem que brigaram, acho que deve ser assim mesmo quando a gente ama!

Gatos, melhor não tê-los (todo e qualquer estofado da casa fica prejudicado), mas se não os temos perdemos o gozo e a lição de pelo menos sete vidas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)