quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Uns e Outros



Caminhando por esse mundo tem-se a oportunidade de conhecer vários matizes, de cores, sabores, cheiros, texturas e gentes.

Ocorre que é preciso dar-se conta de que esses matizes são a graça da coisa. As diferenças chamam nossa atenção, mas como vivemos sob o jugo cultural do não, a primeira reação raramente é aquela da criança que, curiosa, aproxima-se para olhar mais de perto aquilo que acena de lá e que nunca viu. Até mesmo porque, a coitadinha, no mais das vezes, foi sufocada bem cedo, que é para parar com essa coisa, essa mania, de a tudo olhar como uma possibilidade.

Por que será que não é percebida a diferença como um fato apenas? Pois é o que é, um fato, dado e observável. Não carece de juízo de valor, só de reconhecimento, que também não carece de ser positivo ou negativo, carece apenas que seja.

Tudo na natureza tem uma forma e, se não bulir, encaixa-se perfeitamente onde está e como é. Então, por que se entende que pessoas têm de ser assim ou assado (curioso que frito ninguém cogitou!)? Por que uns podem e outros não? Por que isso é bonito e aquilo não?

Todos têm o direito de gostar e ficar ou de não gostar e sair, mas por que interditar? Por que enquadrar? Por que não só observar? Por que julgar?

Essas perguntas eu as faço todos os dias, mesmo cansada delas, mesmo tentando não pensar mais no assunto (fico com tédio de mim às vezes, tão repetitiva...) elas me são esfregadas na cara.

Existem as tribos, os grupos, os nichos, seres que se reúnem e que por vezes se mantém juntos por identificação e isso é lindo, desde que os outros, os diferentes possam passar sem ser apedrejados.

Mas é tão difícil assumir que o diferente apela ao nosso desejo de novidade, que é sedutor, que é como não somos e, justamente isso dá vontade de ir lá, de olhar mais de perto, dar uma provadinha... quando se gosta então? Que difícil dar o braço a torcer! E o que dizer de quando se gosta daquilo mas definitivamente não poderá nunca ser assim ou ter para si pois, só o outro tem porque só o outro é...

Por onde será que anda a compaixão nessa hora? A capacidade de sentir com o outro e permitir que ele simplesmente seja? Quem souber favor entrar em contato comigo através do espaço de comentários desse blog!

Pessoas, como todo o resto, são para ser respeitadas na sua alteridade! Não são como os carros que se pode escolher o modelo e incrementar do jeito que lhe aprouver. “Eu quero com mp3, ar condicionado, estofado de couro...”

“Eu quero inteligente, boa cozinheira, pontual e se puder acrescentar um quadril de 102 cm como promoção do pacote seria ótimo!”

“Eu quero romântico, cheiroso, alto, que não fume e se puder tirar todos aqueles amigos fica perfeito.”

Não dá, não pode, e na verdade não queremos que seja assim! Somos uns e outros, estamos separados pela física e pela essência, sendo isso o que nos une, o que faz o carrossel continuar rodando!

Então, deixa ela ser, deixa ele ser! Aprecie de perto se não for atrapalhar ou desapareça! Mas não me peça para ser diferente do que sou, porque goste ou não goste, é um fato e fatos não mudam pela vontade de terceiros, eles apenas são.

Atenção, não defendo aqui a síndrome de Gabriela, caso gravíssimo de “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...”, a dinâmica da natureza nos move para mudanças e nada como acreditar na possibilidade da metamorfose, mas não se faça de deus, nem de louco o suficiente para dizer a alguém como ou o que ser (com a coisificação das pessoas hoje em dia!) porque isso não lhe pertence!

Uns são assim, outros são assados e o equilíbrio das diferenças deve ser defendido a todo custo (enquanto isso na sala de justiça...)! Não tem aquele ditado que de tão batido ninguém dá mais bola: o que seria do branco se todos gostassem do azul?

Então, pelo amor da santa (e você pode escolher a que mais lhe agrade) deixa a menina sambar, deixa o moço partir! No fim das contas meu bem, ninguém é de ninguém e ser não tem nada que ver com ter!

Elis

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