segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Encontros e (Des)Encontros




A vida é feita de encontros e desencontros, esse é velha e todo mundo já sabia, mas será que por um momento sequer nos damos conta de que o ato de encontrar ou não, depende da vontade de que um encontro aconteça?

Não, não fiquem no raso da concretude das palavras acima, de seus significados por si, vem comigo para baixo, para as profundezas de um lugar onde quase nunca se entra por não guardamos a fé das crianças. Fé de que sempre que quisermos podemos ir e conseguiremos voltar. Vem comigo para dentro do desejo, chafurdar na saudade, sonhar as expectativas, respirar beleza, olhar nos olhos a dor e delícia de ser. Vem dar uma olhada naquele quadro de cortiça onde fixamos as fotografias mais lindas do que já vivemos e do que queremos ainda viver, com toda a força, vem comigo revisitar esse lugar que fica lá no sentimento.

Hoje é domingo e dizem que domingos são nostálgicos e deprimentes, mas sinto os domingos como que um dia reservado ao silêncio da reflexão, um espaço de tempo para reunir forças e preparar-se para uma nova semana, um novo começo. Esse domingo, em especial, pensei longamente sobre os encontros e desencontros que percorrem nossa existência, em como, e em se nos damos conta deles, encontros e desencontros.

Lugar comum isso tudo não é? Sim, e pergunto, onde é que estamos nós então que não damos conta de algo tão óbvio? As obviedades podem ser traiçoeiras. Penso que obviedade é o nome que damos às coisas que não queremos conhecer profunda e verdadeiramente. Assim como as pessoas que se nos apresentam, será que quando as encontramos comportamos-nos como quem de fato encontra ou, nosso medo atroz de aceitar as possibilidades do que um encontro traz consigo é tão grande que preferimos transformar tudo em um desencontro sem fim?

- Oi, você está me ouvindo?
- Claro que sim... você falava de como foi seu dia, não é?
- Sim, agora você entende porque não pude te ligar?
- Hã?
- Estou falando de hoje à tarde...
- O que aconteceu hoje à tarde?
- Você não estava me ouvindo, eu estava explicando e... nossa tudo que aconteceu foi tão chato.... e... deixa pra lá...
- Tudo bem, então a gente se fala mais tarde?
- Tá... pode ser...
- Então, um beijo.
- Tá... outro, tchau...

Eu quero saber quem, quem não passou por isso???

Eu quero saber quem, quem nunca fez isso de propósito porque não queria ir lá, não queria encontrar o outro, mas não teve coragem de assumir para si tal “reprovável” sentimento?

Eu quero saber quem, quem nunca sentiu a dor de tentar e querer mas não conseguir fazer contato com o outro, que estava bem ali na sua frente?

Eu quero saber, principalmente, por que insistimos em negar o que é óbvio: obviedades não existem, o que existe são as infinitas chances de encontrarmos e sermos encontrados, de redescobrir, de surpreender-se, de reciprocidade, de troca, de compadecer-se com o vislumbramento da dor e da delicia de ser do outro.

O querido poetinha disse que a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros... Então, um dia desses, quem sabe assim como quem não quer nada, experimentar fazer uma arte?
Elis Barbosa

4 comentários:

  1. O encontro é realmente uma arte. E, como toda arte, se faz mais de suor e vontade do que de talento nato. E o encontro é uma arte exatamente porque não é obvio, pois envolve uma infinitude de cuidados e atenção com o outro que muitas vezes não estamos dispostos a dar. A arte do encontro exige que saiamos dentro da casinha infeliz de nós mesmos e adentremos na realidade do outro ousando compartilhar. Uma grande arte. Uma arte das mais difíceis.
    Te adoro,
    nega!

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  2. Sim, sim!! Eh isso, era isso que eu queria dizer!
    Que bom poder dividir isso contigo!
    E vamo nois!!!
    Tb te adoro!!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Encontros são mesmo sempre bem-vindos! Penso que acabei sendo redundante num texto falando de troca e no outro de encontro, mas that is what it is all about, reciprocidade! Sim, encontros e desencontros são sempre fonte de grande aprendizado e isso não pode ser desperdiçado nunca, apesar de nossa miopia tão humana... então, é isso... inevitável e fundamental, that is the nature of it!

    Beijos!

    p.s. reflexões não tem dimensão (altura) elas simplesmente são... como nós! :O)

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)