domingo, 8 de julho de 2007

Inteligência Artificial

O filme que leva esse nome propõe uma questão para reflexão deveras interessante: será que há o que se refletir ou trata-se apenas de mais um exemplar de “motion picture” do tipo ficção científica?
Isso, como todo resto que nos cerca, depende da disposição de olhar ou enxergar de quem presencia as cenas dos filmes e do cotidiano.
De minha parte, proponho aqui o seguinte: e se esse filme tratasse David (o menino robô) como uma criança “real”, de carne e osso, será que a historia do filme em si teria de ser retocada, adaptada por conta desse detalhe?
Vejamos: o filme mostra os robôs como seres humanos mecânicos que não serviram, não se enquadraram e que portanto são segregados para um lugar onde os humanos de sentimento, carne e osso, os utilizam como alimento de um sadismo que, demagogias à parte, nos é familiar. Esses robôs estão aos pedaços e buscam, cada um à sua forma preservar o que lhes resta... sim, qualquer semelhança com a realidade de que dispomos não deve ser encarada como mera coincidência.
Diante da realidade que assisto não vejo qualquer diferença entre o tratamento dado a David e o tratamento que recebem algumas, senão a maioria, das crianças que nos cercam e que são expostas à formatação de seus pais que buscam, incessantemente, em nome da ordem “natural” das coisas.
Fico a me perguntar o que é real, no sentido do presente aqui e agora, e o que é vivido por cada um dos seres “naturais” diante da ordem do dia. Será que estamos presentes quando dos acontecimentos à nossa volta ou será que gargalhamos por ser este o esperado? Será que amamos quando dizemos que amamos ou o fazemos por ser este o texto da cena?
Quanto ao mecanicismo do robô, será que andamos, apertamos as mãos, tomamos café, abraçamos, comemos usando talheres (pelo menos por aqui) porque assim nos parece o real ou porque fomos treinados para tal?
Qual é a diferença entre o menino robô ou o amante robô dos meninos abandonados e marginalizados que acabam por se tornar violentos e perigosos? Qual é a diferença de tratamento que damos a ele e ainda qual é a diferença de comportamento apresentado por eles dentro da sociedade do “lar doce lar”?
Enquanto assisto ao filme esqueço-me em vários que trata-se no fundo de uma máquina, sem sentimentos, até mesmo porque o discurso positivista que nos é imposto desde os primeiros momentos de captura de informação é aquele sobre sermos a máquina perfeita, o resultado final dos experimentos de uma natureza implacável cujo paradigma de continuidade é a seleção natural.
Não há momento em que não me pergunto: o que de diferente estamos fazendo com os nossos filhos? Sim, porque apesar de nunca ter parido acredito que todos os filhos são nossos, uma vez que é entre nós que eles estão.
De forma alguma preconizo a ausência de limites no que diz respeito às regras da boa convivência, preconizo sim o olhar atento, a tentativa de enxergarmos cada um desses indivíduos como elos da cadeia que nos eterniza. Importa conduzir-lhes, não mecaniza-los, importa protege-los mas não amedrontá-los, importa sentir-lhes como alguém que veio para cumprir seu próprio caminho e não para satisfazer nosso ideais, carências, ausências ou ainda frustrações.
Curioso, tenho a impressão de estar sendo piegas e demagógica, repetindo algo que obviamente todos nós já sabemos... mas me pergunto ainda, quantos de nós sabemos abster e/ou conceder em prol de algo ou alguém que não sirva mas que é?


Elis Batista


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Desculpo nada!!! Nao ha o que desculpar!!! Imagina se se alongou... de jeito nenhum!!! E eh isso aih mesmo, se faltou alguma coisa no que eu escrevi vc certamente complementou!!!

    Beijos

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