segunda-feira, 23 de abril de 2007

INEVITÁVEL


Do momento em que se vive ao momento em que se morre, literalmente, é inevitável sentir. Digo literalmente posto que ao longo do caminho muitas metáforas destes momentos passam a nos ensaiar, repetindo-se tantas vezes ao longo da efêmera existência.
Vibra a vida, por vezes em tom de morte – tão necessária a segunda quanto a primeira, já que sem contraste não há poesia – para todos os gostos e desgostos nossos de cada dia, vibra quando se repete diversa, insensível, sublinhando as incapacidades, as hipersensibilidades, as distâncias. Nunca estaremos preparados para o que virá, ponderando se nota que para a vida sentida não existe a indulgência da seleção natural, a vibração atinge a todos, nos mais diferentes graus, podendo partir a onda do farfalhar das asas da borboleta, como naquele filme. Não escapa ninguém, somos todos salpicados, batizados por e para existir.
As reflexões aqui espalhadas têm como referência o último turbilhão de acontecimentos que me chacoalham ainda, sobre os quais arbitrariamente escolho não ser explícita, mas que sacodem tudo dada minha própria intensidade e a dos que me rodeiam (cada qual tão particular e inesperada!). De modo que não tem sossego esse meu coração, agitando-se entre possibilidades expostas, como fraturas de ossos, pela sinestesia que o mundo impõe.
Posso ser diagnosticada (e como eu queria um diagnóstico preciso e perene) pelos psicólogos como histérica, de pós-moderna (tão fragmentada) pelos sociólogos, de prolixa pelos ignorantes (que, aliás, nem sabem do que se trata), de eloqüente para os que não tem mais com que se ocupar e dão atenção às palavras que evocam algo tão etéreo como o sentir, em dias onde o que não se prova simplesmente não existe.
Seja como for, escrevo na tentativa, de temporariamente esvaziar o peito tomado por um zumbizar interminável. As perguntas não param de se repetir e ao que parece leva-se uma vida inteira de pesquisa de si, e do mundo, para poder dar conta de identificá-las e poder então, quem sabe, tentar respondê-las. 

- Elis Barbosa
Ansiedade. É na ansiedade que me debato freneticamente por saber que existem tanto as perguntas quanto as respostas, mesmo que ainda não tenham chegado todas a mim nem eu a elas, o fato é (Deus como eu preciso de fatos e verdades que me ofereçam alguma solidez, mesmo sabendo que esta não existe!) que os dias passam calmamente por todo o rebuliço guardado dentro de um corpo só, nesse caso o meu.
Escrevo na esperança de, consubstanciando sentimentos em objeto através das palavras, alcance algum esclarecimento, alguma clareza, alguma coerência, quem sabe alguma resposta que talvez não tenha ouvido sair de mim, mas que se apresente nas entrelinhas destas tantas linhas ordenadas no espaço desta folha de papel virtual, que nem posso tocar, aparecida na tela do computador. O cursor parece tão inquieto quanto o resto do mundo inteiro, será que é ele o responsável pela velocidade com que o tempo, as pessoas, e as coisas têm passado umas pelas outras?
Não sei, não entendo, não me ocorre.
- Elis Barbosa

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