domingo, 12 de agosto de 2007

Hoje


Hoje é dia dos pais, e por mais que todas as datas comemorativas tenham sido estabelecidas para aliviar as tensões de uma estrutura tão torturante, fazendo rodar a roda cega do comércio gosto de usar essas datas para reforçar e/ou reconstruir o significado delas. É a construção que não termina nunca.

Hoje é dia dos pais e fui ver o meu pai. Faz muito tempo que sei dele, mas muito pouco que o conheço. Colocaram diante de nós tantas coisas que tinham que ser, acabamos por não ter a oportunidade de nos relacionar enquanto pessoas, ficamos mesmo no pai e filha. Mesmo assim, o vínculo profundo foi inevitável, a paixão grande, e como não podia ser diferente, amor e ódio gangorrearam numa brincadeira que parecia eterna.

Hoje é dia dos pais e eu fui ver o meu pai. Vi, de novo, o quanto somos parecidos, o quanto nos refletimos um no outro, o quanto nos referenciamos, o quanto nos admiramos calados e a uma certa distância (de segurança), o quanto somos o que somos.

O meu pai é pai desde os 24 anos e sinto como se tivéssemos, na verdade, crescido juntos. Posso fazer uma idéia da confusão que deve ter sido deparar-se, de repente, com um ser pequeno no tamanho mas imenso na ousadia de amar e de querer, na intensidade do olhar inescrupuloso, na força das perguntas que não acabavam nunca, na impertinência das solicitações e dos movimentos. Assim, como são todas as crianças. Não bastasse, era menina, uma femeazinha à imagem (por fora) e semelhança (por dentro), dele mesmo.

Entre tanto, ficava claro para mim o tempo todo algo de muito fundamental. Desde muito, muito cedo. A verdade é que ele era um homem.

Meu pai nunca foi meu herói, nunca foi bonzinho ou irrepreensível, nunca foi perfeito, ele sempre foi um homem e como tal, deixava claro quando queria brincar e quando não queria, quando estava ali e quando não estava, quando aprovava e quando não.
Evidente que uma relação tão intensa quanto a de pais e filhos deixa marcas profundas, boas e ruins, é o que nos constitui, o que nos estrutura, de onde partimos para nos tornar o que quisermos/pudermos. Sinto que foi essa honestidade que me fez respeitá-lo, confiar, entrar em contato. Meu pai é um homem da terra, sendo assim sempre se e nos permitiu um pouco mais de humanidade e acho que foi aí que me encantei e que descobri que era isso que eu queria ser, humana!

Pai, seja como for que seja!
Elis Barbosa

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Então… a intenção é essa… viver e deixar viver, sentir e dividir, para fazer pensar, para fazer sentir!!!
    Quando você oferece, está necessariamente aceitando.

    Obrigada e que bom que gostou!

    Beijos

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)