quarta-feira, 24 de junho de 2009

À LUZ DO DIA

Foi de repente que a interferência daquele som vermelho atraiu para si todas as tensões e tudo na cidade mudou.

O dia, indiferente ao significado daquela indicação sonora, deixou-se estar, lindo, com seu sol de inverno brilhando portentoso num céu absolutamente azul. Soprava, por delicadeza, uma brisa fresca que punha a voar cabelos e papeis, espalhando perfumes, poeira e olhares, agora espremidos pelo cenho franzido dos que tinham capturado o som das sirenes que, tal qual os tambores no circo, anunciavam a presença da polícia nas imediações.

Tudo se dá, bem à luz do dia espreguiçando, já pelo meio, no centro da cidade do Rio de Janeiro, a chamada de maravilhosa. A presença da polícia se impõe em uma das maiores, mais importantes e movimentadas avenidas da cidade, a avenida Rio Branco, que orgulhosa tem mais por gosto acolher empresários, turistas, carnavalescos, trabalhadores (muitos trabalhadores), desocupados, estudantes descabelados, militantes políticos, que policiais barulhentos. E sua passagem provoca.

Provoca a todos, não há rosto que fique incólume à passagem daqueles que deveriam ser tão somente sinônimo de segurança, mas que não passam de representação, na qual acabamos nós também por desempenhar papel. Não aponto aqui culpados, mas tampouco me esquivo dos fatos. Todos os transeuntes contraíram seus rostos e a variedade de emoções acordadas pelas sirenes ia desde tensão até medo, muito medo. Havia quem apressasse o passo, havia quem olhasse com reprovação, havia quem buscasse nos prédios mais próximos abrigo. O que não havia era a segurança de que a presença da polícia ali pudesse ser algo natural e cotidiano, mesmo esta tendo sua atuação sempre garantida no cenário urbano.

As sirenes gritavam e todos procuravam, ansiosos, o motivo, pois que se fosse aparente, quem sabe não daria tempo ainda de nos jogarmos ao chão? Procurávamos... Ao captar o som das sirenes, senti vir à boca o sabor daquele mix amargo de sempre, medo, raiva, desconfiança e desprezo. Não tenho orgulho por sentir assim, todavia é assim que é.

E depois de muito gritarem as sirenes é que o Ministro finalmente passou, e pudemos todos num suspiro coletivo, sentirmo-nos seguros novamente.

- Elis Barbosa

4 comentários:

  1. É bem esse o sentimento, de medo, e não de proteção. Proteção mesmo, só de Deus, nessa terra de ninguém.

    Bjos, Kk

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  2. Fofa!!! Você voltou!!! Oieeeeeee! Obrigada pela presença amiga de sempre!

    Quanto a proteção de Deus, é aí que pega né amore, o pobre tem tantos urgências urgentíssimas...

    Um beijo,
    Elis

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  3. Muito obrigada retroelectro! Volte sempre e se quiser trocar mais deixa um endereço eletrônico ;O)

    Beijos,
    Elis

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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)