Escreve leve, escreve simples,
escreve direto. Não sai, não funciona assim, não sei fazer. Pense: como seria
possível? Nada a que serve tal escrita peculiar é leve, simples e/ou direto.
Compromisso sim. Parece que essa escrita submete-se ao compromisso de conceder
palavras às imagens nascidas de muitos desejos. Entre a noite, sobre a qual me
debruço precipitadamente, e o tempo em que vivo forjando dias com nomes e
números, dentro de meses que se encontram dentro de anos, bóia essa escrita
truncada, cujo sentido não pertence a ninguém, embora os significantes tenham
nome e endereço.
O perigo de dizer, é justamente
esse, abre-se, deliberada e descaradamente, espaço ao outro para que entre. Nem
sempre ele o faz. São dos perigos.
Os calendários sim são simples e
diretos, de leveza atribuível a quem os for colorir. Sendo assim, não há como ser leve,
simples e direto, nem para os calendários, concluo. Mas enfim, quem pode dizer
que o tempo é, quando ele mais parece feitiço de passagem com rastos no seu
eterno envergar dos homens.
Percebe, não é possível ir direto
ao ponto, não é possível remover o véu que reveza, cobrindo ora os olhos ora o
objeto. Ainda se faz elementar ver em partes, posto que o todo no tempo do
agora dançaria inapreensível.
Repito sempre algumas palavras,
algumas expressões, o olhar atento colhe minha assinatura e a legitima, inclusive
ao sugerir que se faça diferente. Repito o modo, repito a estrutura, repito seu
nome em silêncio nas preces que aprendemos justamente para repetir. Repetem-se
as estações do ano, mas não sem intenção, ao invés de se repetirem inócuas elas
trazem em suas cestas aqueles dias passados que mais queriam ficar. E nada
disso pode ser leve, simples ou direto. Como poderia essa escrita o ser?
Responda ou... nada. Já fui
devorada.
- Elis Barbosa
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Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)