Aí, quando a gente não se entende
as horas do dia se multiplicam e passam a caminhar muito devagar, olhando-nos
na cara, de intervalo em intervalo, uma expressão de que também o tempo paga
pelos impropérios de irritações tão desnecessariamente estendidas a assuntos
que nem vem mais ao caso.
E fica aquela pseudo troca de acusações
(porque nem a troca, nem as acusações são reais), girando a contornar um fogo
frio e em torno do próprio eixo. Nessa hora já não há quem leve a mensagem para
o outro lado da ponte. Não importa o que eu diga, o conteúdo será sempre afiado
com o propósito único e exclusivo de atacar o outro, de acusá-lo, de estar
certa. Sério? Não me reconheço nessa ciranda. Assim não.
Vem de tudo isso uma canseira
enorme em me repetir tanto e tantas vezes. Não quero estar certa, aliás, fosse
mútua a prática de se admitir a humanidade que nos faz ser ora bons, ora maus,
até as desculpas seriam mais freqüentes. Contudo, tão logo se começa um debate recebo
pelo ouvido interpretações embaçadas de meus objetivos mais recônditos, quais
seriam: o de estar sempre certa, e o de ter a verdade sempre comigo, ou o de
saber mais, fazer mais, sempre a melhor em tudo!
Posto dessa maneira fica a curiosidade
em saber como se sente alguém que de fato pense tudo isso a respeito de si
mesmo. Não tenho tão elevada auto-estima, embora considere que sejamos todos incríveis,
capazes das maiores incoerências pelos motivos mais injustificáveis, todos passíveis
de renegociação no que diz respeito ao dia de hoje, que não será como o de
ontem, menos ainda como o de amanhã.
Então, o que vai ser?
Mas esse discurso não é realmente
meu, é só um engodo, uma maneira de parecer que eu penso assim, mas no fundo o
que eu realmente quero é que tudo aconteça e que todas as pessoas sejam
exatamente do jeito que eu acho melhor. Então qual seria o meu discurso
verdadeiro? Eu mesma não consigo formulá-lo.
Meus erros não têm servido ao
propósito para o qual gosto de usá-los: lições. Têm servido mais como instrumento
para aquela “coerção” cruel que cabe nas relações domésticas. Pequenos
lembretes de como eu posso estar errando novamente, razão para que outros erros
sejam aceitos em silêncio, justificados pelos anteriores.
Não gosto de competições, nem das
ditas “saudáveis”, gosto quando todos trabalham para que todos ganhem. Por quê?
Sou péssima perdedora, não tenho esportiva, nem sou capaz de negociar
pacificamente com frustrações. Isso tudo é verdade. E me cansa, e seca meu
cultivado bom-humor.
- Elis Barbosa
No laboratório de experiências da casa, os ratos, às vezes, mordem-se de claustrofobia, outras, amontoam-se, buscando contato. Porque ao que resulta fechado pretendia-se na verdade junto. A proximidade desfoca a meta, deforma o que se vê de caolhos olhos, bem como o que se nos devolve de dentro do outro olho-espelho.
ResponderExcluirsejacomoforqueseja.....
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