quarta-feira, 23 de maio de 2007

Intervalo


Desfruto agora de um momento raríssimo de se viver nesses últimos tempos... intervalo! Estou em um intervalo!!! Engraçada essa sensação de lugar para descrever um tempo, estou em um intervalo. Para aqueles que já esqueceram, intervalo é um tempo (acrescentem outras definições para intervalo os que puderem!) que se situa entre uma coisa que aconteceu e outra que está para acontecer.

Desde a modernidade, intervalos são cada vez mais raros uma vez que, existindo um tempo entre uma coisa que terminou e outra que vai começar, costuma-se fazer aquelas coisas para as quais não sobra tempo algum. Ocorre que, nesse intervalo em especial, me encontro sem nada para fazer... então volto-me ao caro exercício de observar e transcrever o que minhas lentes captam, para continuar treinando a caligrafia...

Eis que, de repente, me deparo com uma coisa incrível, que a maioria de nós já viu mas me pergunto se reparamos...um balé, estava acontecendo bem diante dos meus olhos, o balé das canetas rodopiantes!!! As pessoas rodavam canetas dos mais vários tipos por entre os dedos e não sei se era o movimento hipnotizante das canetas ou o desconforto de um momento onde o ser se vê obrigado a, das duas uma, estar consigo e consigo mesmo ou estar com o próximo, que nesse caso está à distância de uma cadeira, mas o fato é que o exercício da dança das canetas parece ter congelado os olhares... e, surgiu então um outro intervalo, o intervalo entre a caneta que roda freneticamente e o fazer algo com o breve momento em que não se tem absolutamente nada prescrito, pré-estabelecido ou determinado para fazer.... mas o que? Deus o que faremos se ninguém nos disser o que fazer?

Alguns tentaram, eu vi, posso servir de testemunha, tentaram estabelecer contato com outros através de tímidos desvios dos olhos das canetas para o próximo, mas este já tinha sua própria caneta e voltávamos à estaca zero!

Há que se levar em consideração que era uma sala de aula (e não, salas de aula como aquela não intentam propiciar qualquer tipo de interação), há que se considerar que já era noite e que a maior parte dos indivíduos que ocupavam aquela sala tinham atrás de si um dia inteiro, cada qual com a sua porção de horas, mas ainda assim admito que me arrepiou o frio da distância entre as pessoas.... Engraçado, uma distância (enorme) dentro de um intervalo (tão curto)... isso me remete a algum conhecimento que devem ter plantado dentro de mim mas que não tenho a impressão de me pertencer... isso tem alguma coisa que ver com matemática? Estou começando a sentir o alien se mexendo dentro da minha cabeça... cruzes!

E agora? Agora é o número dos relógios nervosos nos pulsos cerrados, aliás, alguém sabe me responder por que no mundo cerramos os pulsos para ver as horas?!

Agora, agora seremos todos salvos! Não criemos pânico... o professor acaba de entrar e dá até para ouvir o uníssono dos suspiros de alivio... o intervalo acabou!!! Está restabelecida a ordem e finalmente voltaremos a fazer...


-Elis Barbosa

Um comentário:

Troca comigo, meu texto pela sua impressão dele ;O)